Paula Chalup fala sobre sua rotina no estúdio e revela seu setup dos sonhos

Paula Chalup fala sobre sua rotina no estúdio e revela seu setup dos sonhos

Por Claudia Assef

Cheia de planos para 2018, Paula Chalup conversou com a gente sobre sua rotina em estúdio e seu processo criativo como produtora. A DJ, que também trabalha como RA da Sony Music selecionando novos artistas de música eletrônica, contou para o WME sobre seus equipamentos dos sonhos, seus parceiros de produção e o IAO, parceria com Lucas Parisi.

Explique o seu setup, e fale sobre particularidades de alguns equipamentos que fazem parte dele.

ABLETON 9, monitores trush (behringer), interface Apogee Duet Fw, Controladora Push, Bass Station (novation), plugins Waves, Brainworkx, plugin Alliance, U-he DIva, Arturia.

Quando tinha o live com Dudu Marotte (VCO Rox) tive o prazer de conhecer muitos instrumentos analógicos, e isso foi muito bom para o meu conhecimento mais a fundo na criação. Infelizmente no Brasil os instrumentos analógicos são caríssimos, mas tenho conseguido um bom resultado com esse setup.

O Bass Station é muito intuitivo e a Push (ableton) facilita em desenvolver os arranjos que crio no Ableton. Nesse momento não tenho sentido falta para criar de nada analógico, uso muita coisa digital. O resultado tem sido ótimo.

Como é o seu workflow (fases de composição e gravação, arranjo, corrente de processamento de sinal etc…)?

Cada vez mais estou dando prioridade a estar no meu estúdio. O tempo está cada vez mais curto agora que estou a frente como RA da Sony Music, isso tem tomado um bom tempo, mas por outro lado também tem acrescentado na minha criações e composições, pois tenho ouvido muitos artistas, vários estilos e isso tem somado muito.

Geralmente crio a ideia inicial e depois passo para o arranjo, não tenho regras, não uso isso ou aquilo, se eu achar que vai chegar na ideia que estou tendo, por que não?

Já com o IAO é uma loucura, temos uma sintonia muito fora do normal, desenvolvemos quase tudo aqui, eu crio um ideia ou o Lucas Parisi traz uma e flui muito natural em chegarmos no caminho onde queremos com aquela ideia.
Eu adoro produzir com amigos, mesmo! Com o Mau Mau também é quase uma brincadeira, nos divertimos muito e o resultado é lindo sempre. Nada melhor do que fazer o que amamos e produzir é uma das minhas paixões.

Qual o seu maior sonho de consumo em equipamentos ou ferramentas e por quê?

Adoraria ter : Kush Audio Clariphonic MS 2-Ch Parallel Equalizer é um equalizador midi dos sonhos.
Neve 535 Diode Bridge Compressor 500 Series e esse compressor muda a vida!

Onde e como você começou a trabalhar em estúdio? Explique um pouco o seu processo de aprendizagem e trajetória.

Eu nunca fiz curso, mas sempre tive amigos como Philip Braunstein que é um gênio nos softwares, ele foi com quem tive os primeiro passos na produção, tive também a grande oportunidade de aprender com Dudu Marotte, outro gênio em tudo que coloca a mão, com ele aprendi muito sobre instrumentos, desenvolvimentos e finalização para uma boa produção.

Funcionava assim, horas e horas com essas feras, chegava em casa e ia direto tentar fazer ou pesquisar sobre o que naquele dia tinha aprendido e posso garantir, não tem curso melhor do querer e focar no seu objetivo. Outra pessoa que tem somado muito nas minhas ultimas produções é o Lucas Paris com quem tenho o live IAO, muito mesmo!

https://soundcloud.com/paulachalup/hot-ring

Quais as ferramentas ou características que você considera mais importantes em um estúdio?
Um bom computador, um software com o qual você se identifique e consiga passar suas ideias, um par de monitores (bem importante) uma placa de som , compressor e amplificadores se for gravar instrumentos. Tudo isso se você tiver já condições pra comprar, se não com um computador um software como Ableton que já vem com bastante coisas e um bom fone é o suficiente para uma boa ideia se tornar uma boa musica.

Arrasadora no Dekmantel, Nina Kraviz revela segredos de suas produções na coluna Meu Estúdio

Arrasadora no Dekmantel, Nina Kraviz revela segredos de suas produções na coluna Meu Estúdio

Um dos grandes destaques entre o mar de música boa apresentada no Dekmantel São Paulo (dias 4 e 5) foi, sem dúvida, a russa Nina Kraviz. Ela tocou na tarde do sábado (4), na pista principal do festival, ora debaixo de chuva, ora ao lado de um belíssimo arco-íris, criando uma bela moldura pro seu set, que passeou do techno ao trance, sempre muito vigoroso, sem dar a mínima para o fato de que eram apenas cinco da tarde.

Artista de muito peso na cena de música eletrônica mundial, Nina é sagaz nas produções. Além de seus vários hits, como Ghetto Kraviz, ela está à frente de dois ótimos selos, o трип, lançado em 2014, responsável por lançamentos de novos talentos como Bjarki bem como de raridades de artistas veteranos como Aphex Twin, e o novíssimo GALAXIID, focado em lançamentos nada óbvios. Os primeiros a ganharem vida através do GALAXIID são o russo Species of Fish e o islandês Biogen, ambos criadores de música bem pouco classificável.

Ouça o mix de Nina Kraviz com músicas lançadas pelo selo трип

Ela, que esteve uma pá de vezes no Brasil, tem feito sets repletos de raízes no trance e pelo que vimos no Dekmantel o resultado é uma pista totalmente de quatro por seus timbres, beats e ondas sonoras dos mais diversos shapes, das mais gordas às mais serradas, passando, claro, pelas pontiagudas.

Essa riqueza musical de Nina nos levou a querer entender um pouco melhor a sua maneira de fazer música – e também a especular sobre equipamentos de estúdio, que na verdade é tão itinerante quanto a própria DJ. “Por mais que você tenha equipamentos incríveis, no final das contas o mais importante é o que sai de dentro deles”, disse em entrevista exclusiva ao Women’s Music Event. Vamos a ela.

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WME – Nos fale sobre seus equipamentos (configuração e organização) de estúdio, sobre suas particularidades e seus principais equipamentos de áudio que fazem parte disso tudo.

Nina Kraviz – Como estou constantemente na estrada, atualmente não tenho um estúdio. Desde que me mudei de Moscou, minha vida artística é a vida de uma cigana. Tenho algumas QGs ao redor do mundo e em cada um deles eu tenho algum equipamento. Eu tenho um pequeno módulo de sistema bacaninha na Islândia, alguns sintetizadores incríveis com várias características como Korg Lambda em Berlim e meu antigo estúdio com tudo que eu usei nos meus primeiros anos musicais.

Falando sobre equipamento, eu gostaria de salientar que, por mais que você tenha equipamentos incríveis, no fim das contas o mais importante é o que sai de dentro deles. Eu sempre vi instrumentos de um ponto de inspiração em primeiro lugar e do técnico por último. Se garrafas de vidro dão ao artista inspiração verdadeira para realizar sua ideia, elas são um ótimo instrumento de fato.

Eu conheço muita gente que tem estúdios inacreditáveis e surreais com equipos raríssimos, metros de módulos alinhados um ao lado do outro, mas infelizmente eles não conseguem tirar nada de lá. Eu também conheço dois músicos que estão muito famosos agora e ganharam muito respeito. Se as pessoas tivessem noção do tipo de equipamento que eles usaram para criar seus trabalhos mais famosos, elas ficariam muito surpress. Acredito que a maioria ficaria muito desapontada ao descobrir o que uma pessoa tão talentosa pode fazer com um par de fones de ouvido e um computador tosco. O mundo interior de um artista é a coisa mais importante no final. Como eles são super capazes de transmitir suas emoções. Tudo que vem da interação de um artista com um instrumento ou algum equipamento é uma reflexão desse mundo.

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WME – Como funciona seu processo de criação? O “flow” do seu trabalho, os procedimentos de arranjos e gravações?

Nina Kraviz – Eu tenho um flow de trabalho muito específico. Eu trabalho quando estou funcionando ;-9
Em outras palavras, eu espero até minha musa voltar pra casa, sentar em meus ombros e, enquanto ela descansa, eu dou tudo de mim na gravação. Eu não posso prever quando esse momento vai acontecer de novo, mas eu sei o que fazer quando isso finalmente acontece. A maioria das minhas músicas são freestyle, gravações ao vivo que eu escolhi deixar levemente inacabadas e com algumas correçõezinhas. Dessa maneira eu gravei a maior parte dos meus primeiros trabalhos e meu álbum. Acredito que quando você grava algo, tudo que está envolta de você é absorvido e permanece dentro. Especialmente as emoções. Então não é bom intervir num flow natural com a intenção de permanecer com essa emoção de “primeira vez” intacta. Quando eu gravo algo, deixo isso fluir quase por conta própria e tudo que tenho a fazer é escutar o que vem das minhas interações com as máquinas e microfones.

Quando você sabe como escutar, tudo importa, mesmo um pequeno detalhe pode desempenhar um papel na criação de uma atmosfera. Às vezes as coisas vão um pouco mal… Às vezes, uma chave estranha ou um glitch inesperado do equipamento, um eco estranho. Mas isso é exatamente o que eu busco, quase nunca regravo nada.

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WME – Qual é seu maior sonho falando em equipamentos de áudio para seu estúdio? E por quê?

Nina Kraviz – Eu gostaria de ter um estúdio muito bem equipado onde tudo fosse como eu quero.

WME – Quando e como você começou a trabalhar em estúdio? Nos fale sobre seu processo de aprendizagem, como você engrenou?

Nina Kraviz – No começo dos anos 2000, em Moscou, comecei a escrever e compor música. Eu me tornei uma cantora em turnês de uma banda. Perto de 2006 eu conheci o Ableton e de tempos em tempos eu rabiscava algo para a minha banda. Em 2007, o Greg Wilson lançou nosso disco (Myspace Rocket ft Nina Kraviz Amok). E aí ele nos ofereceu para gravar um álbum. O álbum já estava quase pronto e nós só tínhamos que mixar. Minha banda não era tão entusiasmada como eu sou, eu queria levar cada pedaço do estúdio e mixar com um engenheiro. Minha banda não gostava muito dessa ideia e salientou que eu não produzia nada para o álbum, e que não havia mais nada eu que pudesse fazer. Achei muito injusto, porque na realidade eu estava criando alguns sons e melodias também, então, basicamente eu estava coproduzindo todas as músicas… Eu saí da banda, e através das mágoas e ressentimentos, comecei a fazer música sozinha, com equipamentos bem simples que eu trouxe um dia depois de sair da banda. Era uma placa de som. Um microfone da Shure e um sintetizador vocoder Korg R3.
Ouça o disco Myspace Rocket ft Nina Kraviz Amok

Eu queria provar que eu não precisava de mais ninguém para me expressar musicalmente. Nos primeiros três meses, pela emoção de poder fazer aquilo, eu escrevi tanta música que ainda posso continuar lançando todas até hoje. Eu realmente não sei se posso falar de progressão, na verdade acho que não importa o quanto tecnicamente melhor eu posso ser hoje, eu estou mais preocupada com as vibes do começo. Quando tudo é novo e muito emocionante. Quando você não tem medo de errar fazendo as coisas, você simplesmente faz. Sem nenhuma razão.

WME – Quais as ferramentas e características que você considera mais importantes dentro de um estúdio?

Nina Kraviz – Eu realmente preciso de conforto. Precisa que esteja bem limpo e organizado, para quando eu tenho alguma ideia, eu poder fazer rapidamente tudo o que eu preciso para gravá-la. Precisa ter uma vibe legal, onde eu possa relaxar e deixar minha criatividade fluir sem empecilhos. Embora os empecilhos e desafios técnicos possam também incentivar a criatividade, mas na minha memória as minhas melhores músicas eu gravei em lugares em que me sentia bem.

A russa Dasha Rush, atração que deve surpreender no Dekmantel, fala sobre seus equipos e produções na coluna Meu Estúdio

A russa Dasha Rush, atração que deve surpreender no Dekmantel, fala sobre seus equipos e produções na coluna Meu Estúdio

A russa Dasha Rush, uma das atrações do festival holandês Dekmantel, que acontece pela primeira vez fora da Holanda em São Paulo, nos dias 4 e 5 de fevereiro, é daquelas artistas que deixam uma marca forte na plateia. Seu techno nem sempre tem a função final de fazer dançar com o corpo – seu som é muito mais uma ginástica para o cérebro.

Suas produções já saíram por selos como o alemão Raster Noton, de Carsten Nicolai, um dos principais celeiros do mais alto padrão de música eletrônica experimental do universo, lar de produções de Alva Noto e Ryuichi Sakamoto, só pra citar dois ícones do gênero.

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Pelo RN, ela lançou o aclamadíssimo Sleepstep – Sonar Poems For My Sleepless Friends, no final de 2016, uma amálgama de composições abstratas e etéreas que ora funcionam como uma cama de texturas emoldurando possíveis sonhos no espaço sideral, ora se materializam em forma de spoken word à la Laurie Anderson.

Ouça o álbum Sleepstep… de Dasha Rush

Suas experimentações vão ainda mais a fundo com os lançamentos de seu próprio selo, Fullpanda, lançado em 2005, do qual é dona e diretora artística. Ali ela dá espaço para lançamentos de industrial, dark e ambient techno. “All you need is years” é o lema do selo e de sua dona também. Não à toa, ela tem sido convidada para participar de festivais onde a música vem antes de tudo: Mutek, Atonal, Volt e Dekmantel, entre outros.

Muito curiosas, fomos atrás de saber o que Dasha mantém em seu estúdio. Ah, vale dizer que ela toca no Dekmantel SP no dia 5, dentro da programação diurna. Para ingressos, é só clicar aqui.

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WME – Explique o seu setup, e fale sobre particularidades de alguns equipamentos que fazem parte dele.

DASHA RUSH – Meu estúdio está em constante mudança. Uso hardware e software, não caio em radicalismos de escolher um ou outro. Acho que todos os aspectos da tecnologia têm suas vantagens e desvantagens. No momento (que talvez dure uns três meses) meus brinquedos são: Xenophone e Blofeld, meu pequeno (muito pequeno) universo de modulares está crescendo aos poucos 🙂 O sequenciador Dark Time é o meu xodó, além disso estou usando uma drum machine Elektron, uma Vermona (drum machine), uma Roland 909 e algumas outras ferramentas… Mas não vou listar todos os meus equipamentos 🙂

Em termos de software, estou amando há anos o NI Reaktor. Acho que é uma ferramenta incrível pra fazer música. Também tenho mexido na nova Machine da Native Instruments (talvez eu a inclua numa performance ao vivo). Então está tudo sempre mudando, um mês eu busco algo num num synth, no mês seguinte já pode mudar, dependendo da ideia ou humor. Porém tem alguns elementos que irão ficar comigo por um longo tempo, eu acho. Alguns exemplos são a Roland 909 e Roland System 100. Existe algum tipo de conexão emocional entre mim e esses dois equipos. Como principal digital audio workstation eu uso Cubase. E, claro, tenho um mixer de 32 canais, falantes, módulos de efeitos e toneladas de cabos!

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WME – Como é o seu workflow (fases de composição e gravação, arranjo, corrente de processamento de sinal, etc…)?

DASHA RUSH – Minha abordagem artística muitas vezes vem de uma ideia razoavelmente bem formatadas na cabeça. Podemos dizer que eu faço música que tem foco em algo, a maior parte das vezes. Pode ser um oceano, uma pessoa, até uma luz que eu vi numa noite, pode ser uma memória pessoal ou um pensamento sobre o mundo. Pra mim, é como pintar com as frequências, notas e sons. Diria que eu pinto com sons. Então quando eu tenho algum tipo de visão, eu escolho uma ferramenta (como se fosse um tipo de tinta ou textura de tela) e começo o processo de criar um som que corresponda àquela ideia e daí em diante, até eu atingir a forma desejada.

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WME – Qual o seu maior sonho de consumo em equipamentos ou ferramentas e por quê?

DASHA RUSH – Tenho uma imagem meio idealizada de mim mesmo de quando eu for velha. Gostaria de ter um Buchla e uma harpa de concerto. Por quê? Não sei explicar, apenas acho o som lindo, e também esteticamente acho incríveis os dois. Me vejo tomando um chá e ir tocar a harpa e depois do Buchla numa linda casa de madeira em algum lugar perto da natureza. Não sei se vai acontecer, mas eu gostaria.

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WME – Onde e como você começou a trabalhar em estúdio? Explique um pouco o seu processo de aprendizagem e trajetória.

DASHA RUSH – Comecei a aprender o processo de composição em música eletrônica no final dos anos 90. Naquela época, eu já tinha começado a discotecar, mas tocar não era o bastante para o meu apetite criativo. Primeiro eu aprendi com um amigo o uso básico de sintetizador, sequenciador e da estrutura dos sons. Tudo começou pra mim com software, eu não tinha equipamentos e tudo era muito cara – e talvez fosse cedo demais também 🙂  Eu pegava coisas emprestado, testava, lia sobre a física do som e tentava coisas. Minhas primeiras tracks foram feitas junto com esse meu amigo. Depois de 98, comecei a explorar sozinha e comecei uma sistema de aprendizado solitário. Basicamente eu me joguei no ato de fazer música com o que eu tinha em mão, aos poucos comprando ferramentas, criando progressivamente minha primeiras performances ao vivo e lá pela metade dos anos 2000 me senti confortável o suficiente para lançar e criar meu próprio selo. Foi um processo interessante e consistente. E ainda é!!! Acho que evoluí, assim como a tecnologia evoluiu, o que eu quero dizer com isso é que nunca se deve parar de aprender. A outra coisa importante no processo criativo além de desenvolver suas habilidades técnicas, eu acho, é ganhar algum tipo de maturidade nas suas próprias ideias, desenvolvendo sua visão e estilo pessoais. E isso só vem com o tempo.

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WME – Quais as ferramentas ou características que você considera mais importantes em um estúdio?

DASHA RUSH – Cérebro e ouvidos! E, provavelmente, uma enorme vontade de explorar música, além de um pouco de talento. Acho, honestamente, que você pode fazer uma pela peça musical com alto faltantes de merda e um mínimo de equipamento, desde que você tenha algo a dizer.

Produtora Luisa Puterman, atração do Dekmantel SP, fala sobre os equipos de seu estúdio

Produtora Luisa Puterman, atração do Dekmantel SP, fala sobre os equipos de seu estúdio

Quem se liga nos line-ups de festas de música eletrônica já deve ter trombado com o nome de Luisa Puterman nos últimos tempos. Escalada para o festival holandês Dekmantel, cuja edição paulistana acontece dias 4 e 5 de fevereiro, Luisa é produtora musical e sound designer cujos projetos exploram histórias, possibilidades, problemas e outros aspectos sobre composição e percepção sonora.

Ela estudou piano, entre outros instrumentos, e se graduou em história da arte pela PUC para depois se especializar em engenharia de áudio no IAV. “Som é um elemento central capaz de expadir conexões entre conteúdos científicos, filosóficos, místicos e cotidianos”, diz a produtora, que trabalha com som de forma interdisciplinar em projetos de cinema, publicidade, dança, instalação, performance e composição. Nos últimos anos participou de festivais, residências e exposições como o FILE, em São Paulo, Japan Media Festival, em Tóquio, FIVAC, em Cuba, Red Bull Music Academy, em Paris, OneBeat, nos EUA, Festival Primavera Fauna, no Chile, entre outros.

Conversamos com Luisa sobre os equipamentos que compõem seu estúdio de produção. “Esse lance de equipar um estúdio é um processo longo, infinito na real”, ela define. Saca só.

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WME – Explique o seu setup, e fale sobre particularidades de alguns equipamentos que fazem parte dele.

Luisa Puterman – Meu setup varia um pouco entre o que uso no palco e o que o uso no estúdio de fato. MPC AKAI XR20; pedais; Roland (expandable synthesizer) XPS-10; violão; guitarra; baixo; teclado M-Audio 88 controlador; Logic Pro X; Pro Tools 10; Focusritte i818; Microfones, Mixer Behringer XENYX ; Ipad; Korg Gadgets; Animoog app; monitores KRK 5, monitore Samson ROSOLV 80a; fone audio-technica ATH-M30x e umas outras bugigangas…

Na verdade meu setup é bem básico se for comparado à maioria dos estúdios que vejo por aí. Fui reunindo esses equipamentos de maneira meio aleatória ao longo dos anos e muitas vezes não há uma razão específica de eles estarem aqui. Esse lance de equipar um estúdio é um processo longo, infinito na real e particularmente muito caro. Gosto muito do XPS10 da Roland, é bem instigante poder trabalhar com ele. Além de ser leve/portátil ele é muito versátil. Possui vários timbres e inúmeros parâmetros ligados a envelopes, espectros de frequência e sequenciadores. Uso primordialmente o Logic X como DAW e tenho explorado bastante os plug-ins da Izotope. Também possuo um banco generoso de sound effects, ambiences e field recordings, que apesar de não serem equipamentos são materiais sonoros que se bem manipulados/processados podem gerar resultados interessantes. Os aplicativos de Ipad também são boas ferramentas. Eles são capazes de emular muitos sintetizadores e drum machines que normalmente custam milhares de dólares. Além de ser um dispositivo portátil na maioria dos casos você pode exportar os áudios em alta qualidade. Ah, e claro, o flashback delay da TC electronic é um pedal foda! Vários modos, possibilidades de timbres e um design intuitivo. Acho bom quando os equipamentos são portáteis, pois dá para rearranjar o setup facilmente e às vezes também até levar o estúdio para viajar por aí, coisa que faço com bastante frequência.

WME – Como é o seu workflow (fases de composição e gravação, arranjo, corrente de processamento de sinal, etc…)?

Luisa Puterman – Meu workflow depende principalmente da natureza do projeto. Trabalho muito com trilha sonora e sound design no dia a dia. Dança contemporânea, cinema, publicidade, teatro, instalação sonora, cada disciplina requer um workflow diferente. Mas em geral eu saio tocando o que está ligado ou o que está na frente. Gosto muito de tocar… daí as ideias começam a se organizar e dependendo da referência dos clientes, parceiros ou do que estou em busca ou em pesquisa naquele momento vou seguindo um caminho natural de sobreposição de ideias. Normalmente saio gravando tudo o que me vem na cabeça, tipo 100 tracks até o processador travar e depois vou organizando a sessão. Mas às vezes também fico horas só no piano/teclado para achar uma harmonia. Ou as vezes parto de um sample/SFX e vou construindo em cima dele. Enfim cada vez mais me interesso por modos distintos de composição e produção e essas coisas dependem muito do projeto, das pessoas e mídias envolvidas e do prazo, claro…

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WME – Qual o seu maior sonho de consumo em equipamentos ou ferramentas e porque?

Luisa Puterman – Ando me interessando bastante pelo mundo dos modulares, acho que tá no topo da lista atualmente. Seria massa poder explorar esse território. Acho que os modulares te apresentam outros modos de compreensão sonora, de relação mesmo com a ciência do som e da relação homem-máquina. Seria bom também ter uns periféricos analógicos para poder ampliar as possibilidades de gravação, mixagem e masterização: uns EQs, exciters, compressores etc… Acho que seria massa poder mesclar o analógico com o digital em todas as etapas de produção.

WME – Onde e como você começou a trabalhar em estúdio? Explique um pouco o seu processo de aprendizagem e trajetória.

Luisa Puterman – Comecei como autodidata quando tinha uns 15 anos, foi quando ganhei um Mac de aniversário. Como sempre estudei música e cresci tocando/compondo, foi com o Garage Band que comecei a explorar de forma bem ingênua as possibilidades de gravação e produção. Lembro de fazer uma trilha bem tosca para uma performance de dança ainda no Garage Band quando tinha uns 17 anos, um dos primeiros jobs. Naturalmente isso foi evoluindo e passei para o Logic, comecei a produzir bastante coisa MIDI, manipulação de sample e outros territórios eletrônicos.

Daí na verdade fui estudar história da arte na faculdade e piano no conservatório. Foi só depois da faculdade que fui de fato estudar engenharia de audio no IAV em São Paulo. Me formei lá no curso intensivo e fiz outros cursos de mixagem e masterização lá também. Cheguei a trabalhar um pouco com P.A e show, mas gostava mais da vibe de estúdio. A essa altura minha obsessão por arte e música foi se esparramando para os conhecimentos de áudio e engenharia. Flertei com vários estágios em estúdios de áudio de pós-produção de cinema e publicidade, mas a real é que esse mercado e panelinha de estúdio são bem fechados e não consegui entrar em algum lugar para trabalhar – além de também querer uma certa liberdade de tempo para tocar os projetos autorais. Então em paralelo a isso foram aparecendo projetos de trilha e sound design – e aos poucos foi rolando, fui equipando meu estúdio e acabou que tenho feito as coisas assim desse jeito.

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WME – Quais as ferramentas ou características que você considera mais importantes em um estúdio?

Luisa Puterman – Nossa, difícil essa pergunta, pois acho que do jeito que o mercado de produção musical anda hoje em dia acho que em primeiro lugar seu estúdio tem que ser financeiramente coerente, pois infelizmente só ouço histórias de estúdios com dificuldades. Tenho pensado muito também que não existe um estúdio ideal. O estúdio no fim das contas é um reflexo de quem trabalha nele, uma extensão do corpo, então é uma coisa muito pessoal. Talvez o mais importante seja a vibe do lugar, essas coisas de energia. Você tem que se sentir bem no lugar pois as sessões de produção/mixagem são geralmente muito longas e na verdade música é para ser um lance legal e divertido no fim das contas. Mas, claro, um bom computador é essencial! Evita muito estresse e contratempos desagradáveis no cotidiano de um estúdio.

ANNA conta tudo o que usa pra fazer suas composições

ANNA conta tudo o que usa pra fazer suas composições

Recém-premiada com o DJ Awards em Ibiza na categoria Revelação, a paulista de Amparo Ana Lídia Miranda chegou ao topo da carreira aos 31 anos. Vivendo há quase dois anos em Barcelona, a ANNA, seu aka como DJ e produtora, se firmou em 2016 como um dos nomes mais quentes do techno mundial.

No começo de 2016, ela se tornou a primeira mulher a vencer o prêmio nacional RMC (Rio Music Conference), premiada como melhor DJ – um baita prêmio se você considerar que no Brasil o gap de volume entre DJs/produtores homens e mulheres é gigantesco.

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Em 2015, ANNA foi uma das best sellers no Beatport e este ano seu passe ficou ainda mais quente, com lançamentos por selos bombásticos como Get Physical, Suara, Knee Deep In Sound, Exploited, Tronic e Terminal M.

Por essas e por outras, Anna foi escolhida pra inaugurar a nossa coluna Meu Estúdio, onde revelaremos os segredos dos estúdios de produtoras dos mais diferentes gêneros.

WME – Explique o seu setup, e fale sobre particularidades de alguns equipamentos que fazem parte dele.

ANNA – iMac 5K, monitores Adam A77X, interface de áudio RME Fireface 800, interface DSP UAD Octo Thunderbolt, compressor Warm Audio WA76, pre-amp Audient ASP880, Vermona Retorverb Lancet, Roland MKS80-Super Jupiter, DSI Tetr4, Access Virus TI, Moog Sub37, Arturia Microbrute, DSI Prophet 6, Roland Tr-8, Arturia Beatstep Pro, Elektron Analog Rhythm, Korg Volca Bass, Kork Volca Kick, Oberheim Matrix 6Boss DR-110, Alesis Microverb, microfone Audio Technica AT4033, Subpac S2, fone Focal Spirit Pro, Push 2, Eurorack Modular, VSTs ARTURIA V COLLECTION, FM8, Reaktor, Diva, Sound Toys bundle, UAD, H3000 da Eventide são os que mais uso.

Quando me mudei para a Europa, tive a oportunidade de dar um bom update no meu estúdio, pois os equipamentos são bem mais baratos que no Brasil. Eu comprei alguns instrumentos, sintetizadores e drum machines novos, mas meu investimento maior foi em equipamentos como pré-amplificador, compressor, reverbs, novos monitores.

Umas das coisas de que mais gostei foi a drum machine Analog Rythm, ela é um workstation completo com sequencer, tem diferentes tipos de síntese, é maravilhosa para fazer beats, basslines, melodias, e o som dela é incrível. Eu tenho feito meus beats só com ela e TR-8 e sempre que quero um timbre mais diferente eu vou nela.

O Beatstep Pro é outro investimento que vale a pena, ele tem características interessantes, que me ajudaram com a criatividade, eu uso muito o modo random com fixed scale, eu não sou música, não toco nenhum instrumento, então isso me ajudou a fazer umas melodias mais elaboradas.

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WME – Como é o seu workflow (fases de composição e gravação, arranjo, corrente de processamento de sinal etc…)?

ANNA – Sempre que eu estou em casa, estou no estúdio, estou tocando bastante. Quase não tive tempo, no verão em especial, pra ir pro estúdio, então todo o tempo que eu tenho eu priorizo o trabalho lá. Às vezes vou com uma ideia pronta, e o trabalho é mais rápido. Geralmente crio todos os elementos e depois faço o arranjo. Não uso loops na minha música, já usei, mas faz um bom tempo que não uso sequer um loop, de nenhum tipo, eu gosto de criar tudo, do kick ao EFx, pra ter timbres mais característicos.

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Depois de montar a estrutura toda eu gravo os instrumentos, pois gosto de ter a música pronta pra automação sair mais dinâmica e contextualizada, a não ser que seja um instrumento que não irei automar, aí eu já gravo quando termino de fazer o timbre. Depois de gravados, eu processo cada elemento pra deixar o som mais com a minha cara. Uso o compressor e filtros externos, mas também bastante plugins, pra tudo ficar soando melhor e mais característico também. Durante a criação eu não me preocupo muito em deixar cada elemento soando perfeito, essa parte deixo para a etapa da mixagem, senão acabo passando muito tempo em cada elemento e isso atrapalha um pouco o flow, eu trabalho em cada elemento o suficiente para eles soarem ok, minha maior preocupação durante a criação é fazer a música fluir.

WME – Qual o seu maior sonho de consumo em equipamentos ou ferramentas e por quê?

ANNA – Eu queria ter o compressor Shadow Hills, uso o plugin em todos os projetos e ele melhora o som incrivelmente, fica tudo mais quente e ele encaixa melhor os elementos, fora que ele é maravilhoso esteticamente, e eu adoraria tocar aqueles botões. Também gostaria de ter a 808 e a 303 originais, nada muito impossível.

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WME – Onde e como você começou a trabalhar em estúdio? Explique um pouco o seu processo de aprendizagem e trajetória.

ANNA – Desde que comecei, me interessei por produção. Eu ficava procurando cursos pra fazer, mas não cheguei a fazer nada além de baixar o Fruit Loops e ficar mexendo no computador. Em 2008, quando me mudei para a República Tcheca com meu atual namorado [O DJ Wehbba], que é um engenheiro e produtor incrível , ele me disse “agora você vai aprender”. Ele comprou o Ableton pra mim, me ensinou tudo o que sei e me ensina até hoje. Naquela época ele trabalhava em um estúdio durante o dia, e eu ficava em casa com meu notebook, no Ableton aprendendo e descobrindo, fazendo beats e tentando fazer música.

Quando ele chegava em casa, ele ouvia e me ensinava mais. Lancei minha primeira track em 2008, era um monte de loops, horrível, mas desde então não parei mais. Ver o Wehbba trabalhar esses anos todo me ajudou muito, eu acho que pulei muito tempo do que se ficasse tentando descobrir sozinha, mas mesmo assim foram quase 9 anos de aprendizagem e experiência de estúdio pra poder chegar onde estou hoje, para minha música ter reconhecimento de grandes selos e artistas. A aprendizagem e estudo são diários, minha música não é a mesma e não soa como soava há um ano atrás. Todos os dias saem tecnologias novas, e é sempre bom estar por dentro pra poder incorporá-las à sua música, e também aplicar o que você ja tem de modo diferente.

WME – Quais as ferramentas ou características que você considera mais importantes em um estúdio?

ANNA – Depende, se você esta começando e quer aprender, e quer saber o que precisa pra começar a produzir e não tem dinheiro para investir, eu diria um computador e um bom fone, uma boa referência para saber como tudo está soando com mais fidelidade. Se tiver um pouco mais, uma placa de som também. Você consegue fazer tudo com o Ableton, por exemplo, e só com os plugins dele mesmo. Mas, se você já ganha dinheiro com música ou tem dinheiro para investir, eu diria que uma boa acústica é essencial, placa de som, monitores de referência, de preferência dois, para poder comparar, um bom computador para você conseguir carregar bastante (plugins), bons pré-amplificadores se for gravar instrumentos, e também é importante que a corrente elétrica seja boa pra você não ter interferências e ruídos. Acho que pra mim isso seria o mais importante, o resto eu acho que é mais particular como sintetizadores, compressores, efeitos, VSTs etc.